(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»» "Só existe o tempo único. Só existe o Deus único. Só existe a promessa única, e da sua chama e das margens da página todos se incendeiam. Só existe a página única, o resto fica, em cinzas. Só existem o continente único, o mar único – entrando pelas fendas, batendo, rebentando correndo de lado a lado". __________ Robert Duncan
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Distâncias
Respiro e escrevo silêncio
no acto de escrever e silêncio
até à distância extrema
e na língua o silêncio ferve
a grande terra da garganta branca
lâmina e dedos quase míticos
a líquida frescura dos golfos
onde se renovam os silêncios
sob a cúpula acolhedora do sangue
o excesso do corpo dos mortos
o silêncio que se deixa respirar.
João Rasteiro
.................................Buena Vista Social Club
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
José Afonso - Agora e Sempre !
Que amor não me engana
.
Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se de antiga chama
Mal vive a amargura
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Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia
.
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
.
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
.
Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
.
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
O nascer do dia
José Afonso
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Poesia Verde
Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde.
António Ramos Rosa
............................................The Animals - House of the Rising Sun
http://www.triplov.com/poesia/ramos_rosa/index.htm
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1366039&idCanal=14
http://www.ucm.es/info/especulo/numero33/aramosro.html
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
PAISAGENS
..........................................Alfredo Luz
O corpo profuso flutua incendiado
como os tendões duros da terra,
eu sigo o eco da maturação perfeita,
um círculo fechado no halo dos enigmas
que ignora a extensão da sua teia púrpura
(...)
Há bocas cheias de secretos signos
que a água não escondeu dentro do fogo
mães rasgando um lento solo sagrado
(...)
Olho os favos de mel da idade inicial
o lugar em que se simula a ressurreição
e as veias são um rastro de estrela.
João Rasteiro - In, Os Cílios Maternos, 2005
............................................Joan Baez - Diamonds & Rust
sábado, 14 de fevereiro de 2009
RAUL PEREZ - "sem título"
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1365058&idCanal=14
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
A idade do homem
Crateras de pedra acesa
...........................A Jesús Hilário Tundidor
Deves ser a derradeira cidade
dos primitivos animais doirados
que aspergiam a pedra do interior dos pulmões
as bárbaras vísceras do Minotauro
na polpa crua que se adoça em minha fronte,
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como o seixo que se desabrocha puro
do âmago corrompido da terra
trepando para beber a sede irada do Tormes
e em seu flanco esperar pelo sol que fulge o fogo.
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Procuras a deflagração ao centro,
um modo de te amar as crias dentro do tempo
aonde se ampara o precipício imediato da sílaba.
.............................................João Rasteiro
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JOSÉ CARRERAS - GLORIA (MISA CRIOLLA)
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Salamanca
http://images.google.pt/images?hl=pt-PT&q=salamanca&um=1&ie=UTF-8&ei=VzmTSYX1F5WN-gaqxemJCw&sa=X&oi=image_result_group&resnum=5&ct=title
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Os dias do amor
............................ao João Rasteiro
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uma ave / dona.
.............................."Dancemos no Mundo" - Sérgio Godinho
http://porosidade-eterea.blogspot.com/
http://porosidade-eterea.blogspot.com/search/label/Lan%C3%A7amentos
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
LIVRE para fracassar...
"Hilda Hilst, uma das maiores escritoras brasileiras e falo escritor, do porte de uma Clarice Lispector sem desmerecer Guimarães Rosa , foi uma mulher muito injustiçada. Dona de um estilo único, ela nunca teve no grande público a repercussão que merecia (...)Morreu na solidão e morreu na incompreensão.". - Ignácio de Loyola Brandão
da morte. odes mínimas
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Teu nome é Nada.
Um sonhar o Universo
No pensamento do homem:
Diante do eterno, nada.
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Morte , teu nome.
Um quase chegar perto.
Um pouco mais (me dizem)
E terias o Todo no teu gesto.
Um pouco mais, tu O terias visto.
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Teu nome é Nada.
Haste, pata. Sem ponta, sem ronda.
Um pensar duas palavras diante da Graça:
Terias tido.
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Árias Pequenas. Para Bandolim
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Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores
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Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
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Via Vazia VIII
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Descansa.
O Homem já se fez
O escuro cego raivoso animal
Que pretendias.
Hilda Hilst - A sublime Senhora H. - Música de Mallu Magalhães
http://www.youtube.com/watch?v=f06OE-1_R8E&feature=related
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst
http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2004/not20040204p4461.htm
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Repto
Pequena oração para uma geografia familiar
Esperava cobrir a terra novamente de júbilo
ser oferenda madura como uma tâmara
imitando a densa voracidade de uma velha mãe
que intransigente é o arco de si própria
mas tu estarás pomar em fundo de jarrão verde
dobrado sobre a dilatação das casas acesas
anteriores ao fogo louco da sílaba.
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E sei que há um silêncio de primaveras negras
e digo que todo o amor é uma abóbada
de pequenos vulcões que adormecem junto ao barro
morrendo entre lírios e chuva regeneradora
e vejo o odor maternal fundir barro e cor
corpos metidos em conchas verdes sob o coração.
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Mas tu, ó relâmpago que esmagas a prumo fundo
a luz arrancada das ciladas nocturnas,
ó cometa obscuro atravessado por dentro do milagre?
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Do lugar circunscrito às talhas espero a obra
cega no segredo da traqueia das mulheres que criam
nas cisternas mais fundas sob o verde puro da laranjeira
uma ave-maria como uma desmesurada boca viva
uma velha geografia - a força magnética da criação
dobrada em si mesma por doces lágrimas envelhecidas.
João Rasteiro
..............................Pink Floyd - Mother